LITURGIA DOMINICAL # XVII DOM.TC ANO C
agosto 05, 2019LITURGIA DOMINICAL
XVIII DOM. DO TC ANO C
No grupo dos discípulos havia muitos que seguiam Jesus, mas não o entenderam. Eles estavam completamente envolvidos em preocupações cotidianas e viam o Mestre como um bom mediador para resolver conflitos familiares. Seu desejo não era aceitar as boas novas, mas atingir objetivos pessoais: a acumulação de riqueza como objetivo final da vida.
Alguém na multidão chama Jesus para resolver um problema. Seu interesse é simplesmente resolver suas preocupações individuais. Jesus sinceramente e sem rodeios faz com que ele perceba que seu pedido está fora de lugar. Jesus não quer ser simplesmente um “marido de aluguel” como existem hoje em nossos dias que são homens e mulheres que são chamados para consertar problemas em todos os lugares. Além disso, faz com que ele perceba que seu problema não é uma questão de justiça, mas de simples ambição pessoal. O homem não viu em Jesus outra coisa senão uma boa oportunidade para obter uma porção maior na herança da família.
Essa situação é uma boa ocasião para instruir os discípulos sobre o valor da vida e o valor da riqueza. A vida é muito mais do que uma acumulação progressiva de dinheiro, propriedade, conhecimento e prazeres. A busca incessante de títulos só leva a viver em estado de agitação e angústia existencial. O esforço necessário para alcançar o que a sociedade nos propõe como ideais de vida geralmente não é proporcional às satisfações. A dinâmica de viver atrás de riquezas, poder e prestígio acaba transformando os seres humanos em uma preocupação sem fim que nunca é resolvida.
A parábola que Jesus propõe a eles para compreender plenamente esta situação humana reúne uma experiência da vida cotidiana. Os seres humanos estão dispostos a acumular riqueza, a transformar a realidade para preservá-los, a sentir-se seguros e satisfeitos com elas. No entanto, eles não apreciam o valor da própria vida. Seus apegos não os deixam ver nada além de suas próprias ambições.
Alguém disse que "todos os homens são espontaneamente capitalistas". A verdade é que a sede de possuir sem limites não é exclusiva de uma era ou de um sistema social, mas repousa com o mesmo homem, qualquer que seja o setor social a que ele pertence. O que o sistema capitalista faz é desenvolver essa tendência ignóbil do homem em vez de combatê-lo e favorecer uma coexistência mais solidária e fraterna. Estamos vendo isso todos os dias. O motivo que orienta a empresa capitalista é criar a maior diferença possível entre o preço de venda do produto e o custo de produção. Porém é este motivo que orienta o comportamento de quase toda a sociedade. O máximo benefício possível e a acumulação indefinida de riqueza são algo aceito pela maioria dos cristãos como um princípio indiscutível que orienta seu comportamento prático na vida cotidiana.
Pretende-se preencher o vazio interior com a posse das coisas. A ganância e o desejo de poder são "drogas socialmente aprovadas".
Nós vivenciamos essa situação intensamente. O capitalismo, em sua versão neoliberal, leva os seres humanos a se tornarem acumuladores descontrolados de coisas e maníacos de trabalho lucrativo e eficiência comercial. Nesta sociedade não há mais espaço para valorizar o ser humano como pessoa. Existem apenas "clientes", mercado, vendas, chefes, "homens de sucesso", pessoas ricas. Outras pessoas não contam ...
Por esta razão, hoje é mais urgente proclamar as palavras de Jesus: "a vida não está nos bens". A vida tem valor em si mesma. É um presente para o qual todos os seres humanos têm o direito. Nosso trabalho não pode ser apenas o acúmulo inconsciente e desnecessário de coisas, de dinheiro, de prazeres. Nosso trabalho deve ser humanizado. Não pode ser uma função do sucesso comercial, mas do crescimento como pessoas. Não pode ser apenas um mecanismo de sobrevivência, mas, antes de tudo, um lugar de realização de um projeto de vida completamente orientado para alcançar a plenitude do ser humano aos olhos de Deus.
No fundo, a situação em que vivemos hoje não é de hoje. O capitalismo triunfante já dura cinco séculos. Comblin diz que o cristianismo fracassou em impedi-lo, e que quem vai impelido será a natureza, os limites da natureza: a dinâmica expansiva, englobando os recursos humanos, a macroescala atual, torna a exaustão previsível de recursos, o desaparecimento de florestas, a poluição da atmosfera, o buraco na camada de ozônio, o desaparecimento de espécies biológicas... Chega um momento em que o "derrubar os celeiros para construir os maiores" já não é mais viável: encontra "os limites do crescimento".
A parábola de Jesus, infelizmente, é aplicável hoje não apenas à ganância excessiva de alguns poderosos que de fato governam nosso mundo, mas ao próprio sistema. Quem vai colocar o freio, a natureza (seus limites) ou a história (nossa utopia)?
Hoje ouvimos a voz profética do Mestre: temos que abrir espaço para Deus em nossas vidas. O que vai contar no final são os bons trabalhos que fizemos, não o dinheiro que conseguimos armazenar. Seria uma pena se alguém dissesse que nossa única riqueza é o dinheiro. O que valerá a pena, no final do nosso caminho, quando nos apresentarmos diante de Deus? Não seria chegar de mãos vazias para o clímax da nossa vida? Nós mereceríamos que Jesus também nos dissesse essa palavra tão forte, "tolos!", Se banirmos Deus de nossas vidas, se não nos importamos com os outros, se nos enchermos de nós mesmos e colocarmos nossa segurança nas coisas deste mundo, se nos deixarmos levar pela ganância e pelo desejo imoderado de dinheiro, sucesso, prazer, poder. Nós seríamos estúpidos, como o administrador do evangelho, porque armazenamos coisas ultrapassadas, que podem ser tiradas de nós hoje, e acabarão nas mãos: enquanto que simplesmente ficamos pobres diante de Deus.
Ir. Tomás de Aquino, OSB
Abadia da Ressurreição, Julho, 2019.7.29
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