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A VIDA CONTEMPLATIVA AINDA É NECESSÁRIA EM NOSSOS DIAS?

julho 29, 2019

A VIDA CONTEMPLATIVA AINDA É NECESSÁRIA EM NOSSOS DIAS?


A maioria das pessoas, inclusive os próprios cristãos, compreendem e admiram o trabalho humanitário que é desenvolvido pelas ordens religiosas dedicadas à educação e ao cuidado com os enfermos, órfãos, desamparados, desesperados, etc. Entretanto esta grande maioria,inclusive os cristãos ficam perplexos e são incapazes de compreender as ordens religiosas dedicadas a “contemplação”.

A ignorância da vida contemplativa, a escassa experiência da oração, e por outro lado, a sedução de uma cultura profundamente utilitarista e materialista, favorecem todos os tipos de prejuízo a este respeito. Qual a utilidade de muitas pessoas, monges e monjas, que vivem ocultos no silêncio, dedicando seu tempo completamente a oração? Essa grande maioria, pautada por uma mentalidade científica, técnica, prática e pragmática, também tem sérias dificuldades para entender os poetas, os cantores e músicos, os filósofos, os desportistas, as crianças, os românticos e os contemplativos da natureza. Para que servem? Que vantagem eles podem nos informar? O que eles produzem para que possamos comprar num supermercado?

A maior parte das pessoas, inclusive os cristãos de países pouco desenvolvidos pelo qual estão sendo absorvidos e massificados pela sociedade de consumo. Sua maior ilusão é ganhar cada vez mais dinheiro, sobretudo com qualquer concurso de loteria, para que possa comprar mais e mais, casas, carros, eletrodomésticos, ações de alguma empresa bem sucedida, roupas de grife, plásticas e cirurgias para mudar sua aparência. Estas pessoas vivem com um único objetivo, ou seja, consumir. O mundo não é para eles mais que um imenso supermercado, um mercado europeu, um mercado mundial, em que todas as coisas tem um preço e uma utilidade.

Nossa cultura atual somente aprecia o que se pode comprar ou vender. Logo, o inapreciável, o que mais vale porque não se pode comprar com dinheiro, acaba sendo depreciado, menosprezado e é deixado de lado por ser considerado inútil.
Podemos também nos perguntar, para que servem os céus, os bosques, as montanhas, os animais de toda espécie? Interessa somente a sua carne para comer e as suas peles para vestir, contudo se deprecia todos os animais e plantas que não podem ser “comercializados”, ou seja, vender e comprar. Interessa a madeira das árvores ou os minérios do subsolo que são suscetíveis a exploração. Para que servem tantos milhões de estrelas inalcançáveis? Para que as águas dos oceanos? E esta pergunta interesseira, utilitarista, mesquinha, embota o melhor do homem: sua capacidade de admiração, de assombro, de contemplação respeitosa e afável. Não há tempo nem lucro em sair e contemplar as maravilhas da natureza, ou em silenciar e satisfazer-se de gozosa contemplação ante o espetáculo gratuito e para todos que oferece a natureza: o sol e as estrelas, as árvores e as ervas e flores, as aves e os insetos, o panorama, o horizonte sem fim, o azul do céu, o verde do mar, a sinfonia das cores da criação.

E assim se procede sem piedade contra a flora e a fauna, explorando e aniquilando, esgotando, deformando, degradando o mais maravilhoso, o que se oferece a todos sem distinção de classe, de nação, de nível de renda, de nível cultural... Existe uma infinita variedade de prazeres e gozos menosprezados pelo mero fato de que não se podem comprar e vender, não podem ser comercializados.

Enfim, diante de todas estas perspectivas apresentadas acima, vemos que não é estranho que não se compreenda a vida contemplativa, pois nossa geração tem se fundamentado em um sistema de vida totalmente consumista. Nos conformamos em desfrutar e nos perdemos no espetáculo impressionante de um mundo cheio de maravilhas. E o que é pior nos empenhamos em não deixar os outros desfrutarem. Restam os contemplativos (as), como restam os poetas e os pensadores e os naturalistas e todos os que necessitam de muito pouco para desfrutar em um mundo surpreendente e maravilhoso. Porém se um dia chegar a faltar os poetas e os que somente rezam e cantam e os contempladores, aquele dia o homem terá dado o primeiro passo de regresso até seus antepassados os primatas. Nesse dia terá terminado a evolução e dará início a involução, onde se colocará um ponto no progresso e se iniciará o regresso e com ele a desumanização.

U.I.O.G.D.

Ir. Tomás de Aquino, OSB


Abadia da Ressurreição, Julho de 2019.

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authorOlá, meu nome é Fabio José da Silva. Sou Blogueiro, Católico formado em filosofia e teologia. Meus assuntos de interesse neste blog são: Espiritualidade, Vida Monástica, Hesicasmo, Filosofia, Teologia e Catequese. PAX!!!
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