LITURGIA DOMINICAL # XXII DOM TC ANO C
agosto 26, 2019LITURGIA DOMINICAL # XXII DOM TC ANO C
Lucas nos apresenta Jesus participando de uma refeição no sábado, na casa de um importante fariseu. Nesta ocasião, Lucas parece ter um interesse especial em destacar a atitude de observador dos protagonistas.
De fato, fruto dela são as palavras de Jesus, às quais Lucas qualifica como uma parábola (exemplo, segundo a tradução litúrgica). Na realidade são duas parábolas: a primeira dirigida aos convidados, e a segunda ao anfitrião.
Uma parábola de Jesus é uma ilustração, uma instrução gráfica na qual as situações estão deliberadamente ampliadas e exageradas, de modo que produzem um impacto no ouvinte, o que o leva a dar voltas e voltas no que ouviu até captar seu significado.
A primeira parábola é formulada em termos de recomendação prática para convidados a um banquete. Não sentar-se à cabeceira da mesa, mas em último lugar.
Cabeceira por oposição ao último lugar. O impacto está garantido pelos gráficos da recomendação. Mas logo evoca outras coisas. Cabeceira, preeminência, importância, prestígio, último lugar como expressão do oposto.
Começamos a intuir que o que Jesus propõe é uma subversão de valores, negando aqueles geralmente considerados como tais. O alto é baixo, e o baixo é alto. "Quem se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado."
O que parecia ser uma recomendação prática para os hóspedes é, na verdade, a negação de valores socialmente mantidos por esses indivíduos desejados e procurados.
A segunda parábola é uma daquelas impossíveis de esquecer. Suas imagens deliberadamente agressivas garantem o impacto e a perplexidade. No entanto, a linguagem da parábola nos coloca na pista do sentido.
Três vezes o verbo "ser pago" ressoa e uma vez que o verbo "corresponder". Começamos a intuir que o que Jesus propõe é uma ação altruísta e desinteressada.
Descobrimos que esses traços apontam diretamente contra comportamentos que parecem inatos e enraizados na psicologia de indivíduos e grupos. A busca por prestígio parece obedecer a uma necessidade instintiva. Agir e se relacionar com alguns e não com outros, dependendo se eles podem ou não contribuir com algo para mim, também parece inevitável. O prestígio! As relações interessadas! Talvez comecemos a perceber que a dificuldade do caminho cristão reside na radicalidade de sua novidade.
O cristão é uma pessoa radicalmente nova porque a novidade afeta os arquétipos do comportamento, as formas imanentes da psicologia humana, tanto individuais quanto coletivas. Ser cristão é certamente difícil, porque significa ser uma pessoa diferente.
Santa Teresa deu uma boa definição. Andar na verdade. Nem mais nem menos. Saber ser o que se é e saber lutar para ser o que Deus espera que sejamos. Aceitando a verdade. Viver na verdade. Sem enaltecer-se, sem elevar-se, sem dar-se importância ("somos servos inúteis" Lc 17, 10), sem presunção, sem considerar-se auto-suficiente, etc. Aceite a verdade pura e simplesmente. Essa humildade é um valor evangélico e é por isso que Jesus utiliza aqui uma fórmula solene: "Ditoso é tú”, como mais uma bem-aventurança.
A humildade é a sábia consequência de quem sabe verificar suas próprias limitações e de quem vê sua situação diante de Deus, como uma criatura a quem ele deve a vida e como um pecador a quem ele deve a paciência e o perdão.
Nós que somos convidados por Cristo à sua mesa devemos ter a virtude da "última posição", o que nos faz sinceramente reconhecer que nosso "curriculum vitae" não é notável, inclusive contraditório.
Diante de Deus não há reivindicações ou suficiências, mas coerência e humildade. O convite chega até nós não por méritos humanos, mas por graça. A humildade cristã não consiste em cabeças baixas e pescoços tortos, mas em reconhecer que devemos dobrar nossos corações por arrependimento, para que nossa fé não seja pobre, nossa esperança seja fraca e nosso amor cego.
POR IR. TOMÁS DE AQUINO, OSB
ABADIA DA RESSURREIÇÃO, AGOSTO DE 2019.
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