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ENTENDENDO A 1ª CARTA DE JOÃO # LIÇÃO 1

setembro 15, 2019


ESTUDO PANORÂMICO DA 1ª CARTA DE JOÃO

(1 Γιάννης "Fé no Amor")

CONTEÚDO LITERÁRIO E DESTINATÁRIOS DE 1JO


A primeira Carta de João faz parte do conjunto no Novo Testamento denominado por cartas “católicas” que significa universais, isto é, dirigidas a todos os cristãos. Contudo esta epístola apresenta alguns problema no que se refere ao seu gênero literários, pois segundo Wernel Geroge Kümmel,

os traços comuns de um epístola faltam em 1Jo: título e conclusão com saudações e benção. Ela não contém nomes (exceto o nome de Caim em 3,12) e nem associações pessoais concretas. Por isso ela dá impressão de não ser absolutamente uma epístola. Algumas observações dirigidas aos leitores (2,1.7;4,4 entre outros) não provam que estejam sendo endereçadas a pessoas específicas, da mesma forma que o início e o fim possam ser explicados como peculiares ao estilo de uma carta. 1Jo parece mais ser um tratado dirigido a toda a cristandade, uma espécie de manifesto [um escrito catequético original, destinado a catequese dos batizados, que perdeu sua forma epistolar] (KÜMMEL, 1982: p. 574)

Resta ainda explicar a ausência de informes concretos, a este repeito E. Cothenet afirma que

a leitura atenta deverá levar em consideração seu caráter contingente ligado a circunstâncias precisas, em vez de aí ver uma orientação para diferentes momentos da existência cristã em geral. [...] Talvez o autor considerasse que suas advertências ainda viriam a ser úteis em outras dificuldades que a igreja atravessaria; por este motivo deixou de inserir nomes próprios de lugares ou pessoas aos quais se dirigia. Podemos também evocar o anonimato sob o qual se mantem o quarto evangelista. Realmente, a discrição observada por este último pode ter influenciado a redação da epístola, tão semelhante, em tantos aspectos, ao Evangelho de João (COTHENET, 1988: p. 168)

Portanto, as conclusões que podemos chegar a respeito de seu conteúdo literário é que esta carta faz parte da tradição “joanina” com uma linguagem muito semelhante ao evangelho de João, pois, segundo D. Estevão Bettencourt, OSB (2011: p. 212) “a mesma doutrina fundamental é transmitida pelos dois escritos”:

1Jo 1,1s
com
Jo 1,1-4
2,2
11,51s
4,9
3,16s
5,6
19,34s
5,12
3,36
5,20
17,3

Outro aspecto defendido por bons exegetas é que 1Jo foi escrita para apresentar aos leitores o Evangelho de João.

Quanto a origem desta epístola provavelmente sua redação final se situa na virada do século I para o II, e possivelmente tenha sido escrita a comunidade de Éfeso, na Ásia Menor, onde uma tradição secular coloca a residência do apóstolo João (cf. MORGEN, 1991: p.8).

Éfeso era uma cidade portuária, greco-romana, com mais de duzentos mil habitantes, era um dos grandes centros de desenvolvimento econômico e do pensamento filosófico do Mediterrâneo. Tinha uma sociedade escravista (quase dois terços da população).

A comunidade cristã era solidária, tinha sido fundada por Paulo em sua segunda viagem missionária (At 18, 24-26). Entretanto, foi influenciada por cristãos adeptos da filosofia gnóstica a qual afirmava que apenas pelo conhecimento mental e espiritual a pessoa entra em contato com o Deus verdadeiro, com uma fé desligada da realidade.

Tais pessoas negavam a Jesus como Messias e se gloriavam de conhecer a Deus, de amá-lo, de estar em íntima união com ele; afirmam-se iluminados, livre de pecado e da baixeza do mundo; não davam importância ao amor ao próximo e talvez odiassem e hostilizassem a comunidade. O grupo foi rejeitado, mas as comunidades ficaram inseguras e confusas. A carta mostra que um espiritualismo que não se traduz em comportamento prático é vazio (BALANCIN; STORNIOLLO, 1986: p. 219).

A carta tem o intuito de responder a crise de fé que havia em alguns membros da comunidade. Alguns não davam a devida importância à prática concreta da fé e do amor no dia a dia da vida e diziam que a comunhão consiste sobretudo no conhecimento intelectual (gnose, como se dizia na língua deles). Por isso, os que promoviam esta teoria eram chamados de gnósticos.

Tais hereges são os mesmos que o Evangelho segundo João combate. Eram inspirados por um certo Cerinto. Este ensinava que Jesus fora um mero homem, filho de José e Maria; no Batismo uniu-se-lhe o Cristo (o Filho de Deus), de modo que Jesus em sua vida pública possuía uma ciência elevada e o poder de fazer milagres, mas antes da Paixão o Cristo deixou Jesus. È por causas destas ideias que a 1Jo tanto incute a realidade da Encarnação (1,1-3), a identidade de Jesus Cristo-Filho de Deus (4,14s;5,5s), a Redenção realizada mediante o sangue de Jesus (1,7) (BETTENCOURT, 2011: p. 212-213).

É evidente diante dos fatos apresentados que “a ocasião da carta é a atividade de falsos doutores: João escreve para neutralizá-la. Ciente porém, de que seus leitores conhecem a verdade e têm, de fato repelido eficazmente os falsos profetas” (1Jo 2,20.27;4,4) (HARRINGTON, 1985: p. 609). Entretanto fica a pergunta: quem são os destinatário desta carta?

Os destinatários parecem ser fiéis convertidos do paganismo (5,21). Não faltam indícios, porém, de que entre eles havia numerosos judeo-cristãos, como se deduz da menção de Caim (3,12), das alusões aos falsos profetas (4,1), aos anticristos (anti-Messias) em 2,18.22... Esses cristãos já estavam convertidos à fé desde muito (cf. 2,7.24; 3,11) (BETTENCOURT, 2011: p. 212).

Tendo estabelecido os problemas que a comunidade estava vivenciando resta somente traçarmos os objetivos a quem esta epístola se dirige, que segundo o Dr. A. Van Den Born é “pregar a fé 1,1-13) e defendê-la (4,4-6; 5,4-12)” (BORN, 1992: p. 804).

Enfim, a centralidade da sua mensagem esta focada no amor, que traduz a fé em vida concreta. Amar ao próximo significa conhecer a Deus, viver na luz, estar unido a Deus e aos irmãos, não pertencer ao mundo e cumprir os mandamentos. Portanto, amar a Deus é praticar a justiça, é ser filho de Deus, obter o perdão dos pecados e libertar-se do medo.

Na próxima lição abordaremos sobre o título e a autoria do texto de 1ª João. Fique na PAX!!!

Por Ir. Tomás de Aquino, OSB
Abadia da Ressurreição, Setembro de 2019.


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AUTOR

authorOlá, meu nome é Fabio José da Silva. Sou Blogueiro, Católico formado em filosofia e teologia. Meus assuntos de interesse neste blog são: Espiritualidade, Vida Monástica, Hesicasmo, Filosofia, Teologia e Catequese. PAX!!!
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