PENSAMENTOS MONÁSTICOS # 06 - O RETIRO MONÁSTICO
dezembro 11, 2019O RETIRO MONÁSTICO
(ANACORESE)
A consagração virginal a Cristo nos primeiros séculos do cristianismo ocorreu dentro da comunidade cristã; eram homens e mulheres que se entregaram a dedicar suas vidas as coisas do Senhor. Mas a renúncia ao mundo e deixa-lo completamente era visto como um valor no mundo monástico dos primeiros séculos e se tornará uma das características definidoras desse modo de vida.
Nos grupos de ascetas e virgens consagradas da Antiguidade, eles decidiram deixar o mundo, entrar em lugares distantes das populações e viver uma experiência no deserto.
Dessa maneira, o monacato nasceu como uma realidade distante do mundo. Portanto, uma das primeiras palavras com que os monges foram chamados foi: "Anacoretas", que teria sua raiz em uma palavra grega que significaria: retiro, retirar-se, quem se retira.
Então, para o monge, O caminho para obter a salvação era afastar-se do mundo, com tudo o que isso implica. Isso foi expresso pelos Padres do Deserto, e dessa maneira uma multidão de irmãos sentiu isso ao longo dos séculos.
A origem desse afastamento do mundo não encontra razão de ser em seu mal intrínseco, mas no sentido de que o mundano se torna um obstáculo à verdadeira contemplação, uma distração da mente e do coração para encontrar somente Cristo.
Nas Escrituras, encontramos como o Espírito levou Cristo ao deserto, da mesma maneira que os monges são levados pelo mesmo Espírito aos lugares mais afastados e ocultos, de modo que, ao abandonar os homens e as coisas deste mundo, eles vivem apenas dedicados as coisas de Deus. Por isso, não estava bem claro que aqueles que foram abençoados com a vocação monástica continuariam a viver nas cidades ou nos lares de seus pais, mas, pelo contrário, imitando os pais do Antigo Testamento, deveriam deixar tudo e construir suas tendas em locais mais retirados. Somente assim seriam verdadeiros monges, alcançando uma verdadeira vida anacorética e consequentemente a perfeição monástica. Essa solidão poderia ser alcançada individualmente ou também reunindo-se em colônias eremíticas, que mais tarde levariam o nome de cenóbios (vida cenobítica).
Os Padres do Deserto no antigo monacato expuseram as razões pelas quais a solidão e o retiro eram fundamentais. Uma delas é libertar-se de tudo o que pode impedir o homem da salvação. O diabo poderia usar os bens desta terra para escravizar a alma e abafar os mais puros desejos de entregar-se completamente a Deus. Pelo contrário, aqueles que conseguissem se libertar dos bens terrenos poderiam ter seus corações prontos para serem preenchidos com bens celestes e todas as graças espirituais. Ao mesmo tempo, os monges encontraram nas Escrituras as razões da renúncia absoluta. Cristo pede para que seus seguidores levem uma vida pobre e pacífica para longe do mundo; uma vida em que seu acompanhamento implica deixar todas as coisas. E outra razão é a grande dificuldade em tornar os dois amores compatíveis no mesmo coração humano: o do mundo e o de Deus. Portanto, o abandono do primeiro, sua renúncia, é uma consequência do amor de Deus, do desejo de viver para Ele como o único tesouro do coração.
O objetivo é de grande beleza e grande heroísmo. O deserto se torna o lugar, onde Cristo se revela ao coração e o Espírito Santo conduz a alma pelos caminhos da vida espiritual e do matrimonio espiritual.
Mas, ao mesmo tempo, é um caminho árduo e difícil, não sem grandes lutas internas e externas, onde memórias do passado e pensamentos cercam a vida do asceta.
Este deserto pode ser vivido em absoluta solidão como um eremita, embora também seja possível vivê-lo em uma comunidade de irmãos que renunciaram a tudo; e a outra possibilidade é vivê-la na chamada peregrinação espiritual, como um desterro espiritual no qual não haverá segurança em nada. No final, será viver na terra como um exílio, onde a única pátria será o céu.
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