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PENSAMENTOS MONÁSTICOS # 05 - A RENUNCIA MONÁSTICA

dezembro 10, 2019

Mosteiro

A RENUNCIA MONÁSTICA

Uma premissa fundamental na vida monástica é a renúncia a tudo, seguindo as palavras de Cristo ao jovem rico contidas no evangelho: “Se você quer ser perfeito, vá, vá, venda seus bens, dê o dinheiro aos pobres - assim você terá um tesouro no céu - e depois vem e me segue”(Mt, 19, 21).
A vida monástica tem aqui um dos paradigmas mais importantes de sua espiritualidade: a renúncia a tudo, até a si mesmo. No Oriente, um dos conceitos usados para designar os monges era o dos “apotactitai”, ou seja, “aqueles que renunciavam". Sem uma verdadeira renúncia, não pode haver vida monástica, vida religiosa ou vida cristã verdadeira, pois em todas essas realidades a opção total por Cristo, seja na vocação batismal ou em uma vocação específica, implica uma certa renúncia às coisas deste mundo.
São João Cassiano concebe a vida do monge como um processo de contínua renúncia, no qual três momentos são distinguidos. A primeira renúncia estabelecida na ordem corporal consiste em desprezar todas as riquezas e bens deste mundo, de modo que nenhum objeto impeça a rendição total a Cristo. A segunda renúncia implica o abandono de todos os velhos costumes, vícios e afetos internos e externos, cujo objetivo é a libertação interior do coração. Após essa preparação interior e exterior do monge, chega o terceiro momento que consiste em separar nossa mente de tudo o que está presente e visível para contemplar apenas coisas futuras e não querer nada além das invisíveis. Essa concepção vem de uma leitura teológica da vocação de Abraão. "Saia da sua terra, da sua família e da casa de seu pai ”(Gn, 12, 1).
A porta de entrada para a vida monástica é a renúncia às coisas deste mundo, que envolve vários aspectos. Um primeiro aspecto é a renúncia ao casamento, que por sua própria natureza tende a absorver todos os afetos do ser humano e capta todo o seu interesse. O monge escolhe abandonar o casamento, o amor conjugal, os prazeres da carne e ao descanso da alma no carinho de uma família. A virgindade, concebida como uma continência perfeita e voluntária, é a raiz do monacato cristão, sua primeira e indispensável condição. O monge coloca seu coração totalmente em Deus, renuncia a todos os hobbies terrestres, mesmo os mais legais. Portanto, ele renuncia ao carinho de sua própria família, à ternura dos seus; sai de sua casa e entra nos claustros do mosteiro para viver na companhia de Cristo e de seus irmãos.
Outro aspecto fundamental da renúncia é deixar todos os bens. Não é um verdadeiro monge aquele que vive cercado por riquezas pessoais ou que leva uma existência confortável e talentosa. Para São Paulino de Nola, a porta para a vida monástica era o desapego dos bens terrenos. É professar o despojamento e participar da humildade e pobreza de Cristo. Ser monge é ser como Cristo, viver como Cristo viveu, olhar a vida como Cristo olhou para ela e fazer uso das realidades terrenas como ele fez. A renúncia monástica é totalmente cristológica e só pode ser vivida dessa perspectiva espiritual. Nesse contexto, podemos entender o "Hábito Monástico" como a expressão física do início de uma nova vida, renunciando até as vestes, para revestir-se do novo traje que é Cristo. Deste modo, Renunciar a qualquer propriedade pessoal significa anular o perigo de confiar em algo neste mundo e ser totalmente livre para se dedicar exclusivamente a Cristo. Essa tem sido a doutrina monástica ao longo das décadas, o monge não possuirá nada e receberá da comunidade tudo o que é necessário para viver.
Finalmente, o aspecto mais importante da renúncia é a abnegação. Cristo pergunta a quem deseja segui-lo: “ Se alguém quer me seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24). A abnegação está intimamente ligada ao conceito de carregar a cruz. Seguir a Cristo e a Cruz estão irreversivelmente unidos no caminho da vida espiritual, especialmente no caso do monge. São Basílio expõe que, dentre todas as renúncias, a mais importante é a renúncia de si mesmo, despojando-se do homem velho mediante a abnegação de sua própria vontade, obra que leva praticamente uma vida inteira. A abnegação não é como o desapego dos bens no momento da entrada no mosteiro, mas é o trabalho de uma vida, que esculpe os mesmos sentimentos de Cristo no coração humano para realizar no coração do monge a nova criação, uma nova vida em Cristo.
A renúncia visa romper os laços que unem o homem ao mundo, à carne, ao sangue, às esperanças terrenas e mundanas, e introduz o monge em uma nova cidadania. Os monges deixam tudo para viver na intimidade silenciosa e invisível de Deus.


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authorOlá, meu nome é Fabio José da Silva. Sou Blogueiro, Católico formado em filosofia e teologia. Meus assuntos de interesse neste blog são: Espiritualidade, Vida Monástica, Hesicasmo, Filosofia, Teologia e Catequese. PAX!!!
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