TRÍDUO PASCAL - PARTE II
abril 10, 20202º DIA - SEXTA-FEIRA SANTA
A Sexta-Feira Santa centra-se no mistério da cruz, instrumento de tortura e de morte (madeiro), mas sinônimo de redenção (árvore). De fato da cruz se reflete o sofrimento de Cristo, como o amor que assombra e desconcerta, e o juízo de Deus, junto ao pecado da humanidade, presente na aniquilação de Jesus por Deus.
Neste dia, chamado antigamente no modo judaico de preparação para o descanso sabático, hoje para nós cristãos é a "celebração da paixão do Senhor". Comemoramos a vitória sobre o pecado e a morte. Jesus morreu no dia 14 de Nisan judeu, naquele ano era sexta-feira. A Igreja decidiu comemorar a morte de Cristo na sexta-feira, e sua ressurreição no domingo.
A atual celebração da Sexta-Feira Santa
segue-se precisamente na ordem já indicada por Justino no séc. II - as orationes sollemes ou "prece universal", segundo o esquema ordinário da antiga oração litúrgica: convite - intenção - oração individual em silêncio - coleta (collecta) da oração por parte do celebrante (cf. MARCILI, 2009: p. 519).
A liturgia da palavra, sem a Eucaristia, era comum em Roma às quartas-feiras e sextas-feiras, na hora nona (por volta das 3 da tarde), até o século VI.
Na Sexta-feira Santa se celebrava, desde o século IV, um ofício da palavra próprio do dia, com os elementos atuais: leituras, orações solenes, adoração da cruz e comunhão.
Em Jerusalém (séc. IV), segundo a narração da peregrina Egéria, entre a hora II e a hora VI (7-11) realiza-se a adoração da cruz sobre o Gólgota, no lugar onde foi erigido o monumento à cruz. Aí, e precisamente atrás do monumento, dispõe-se uma mesa com uma toalha sobre a qual é colocada a custódia de prata e ouro da relíquia da Santa Cruz (cf. MARCILI, 2009: p. 519).
A liturgia da Sexta-Feira Santa comemora a paixão e morte de Cristo. Em sintonia com o realismo litúrgico desses dias, sugere-se sua celebração às três horas da tarde (a hora nona, cf. Mt 27,45-46), hora da morte de Jesus. Desde muito antigamente, na Sexta-Feira Santa não se celebra a eucaristia, mas uma liturgia com comunhão no passado chamada de "missa dos pré-santificados". Como no Domingo de Ramos, também na Sexta-Feira Santa usa-se a cor vermelha e lê-se o relato completo da Paixão segundo São João. Trata-se de uma liturgia sóbria, dividida em três partes: liturgia da palavra, adoração da cruz e comunhão, no qual se reparte o pão consagrado na noite anterior e que estava guardado na reserva preparada especialmente para isso. Como já foi afirmado, é um dia de jejum, e a Igreja, recomenda que este último continue durante o sábado, até a vigília (Guillermo Rosas, ss.cc; in CELAM, 2007: p. 34).
Começa por meio de um rito inicial antigo, a prostração do celebrante e de seus ajudantes em silêncio.
A primeira leitura, chamada "Paixão segundo Isaías", é o quarto canto do servo do Senhor, profeticamente aplicado a Jesus.
Na segunda leitura, o servo é o sumo sacerdote que se entrega pelos outros.
O evangelho é o relato da paixão de São João, onde a cruz é a suprema revelação do amor de Deus. A paixão pode ser lida entre várias leitores, divididaem cinco cenas: horto das oliveiras, interrogatório religioso, interrogatório político, crucificação e sepultura. Eles são intercalados entre cena e momentos de oração, canto ou música e reflexão. Um texto longo, como o da paixão, é melhor ser acompanhado com o mesmo em mãos. No momento da crucificação, podem ser pregados duas tábuas que formam uma cruz.
Na sequencia temos a oração universal, formulário Romano do século V. As orações solenes e os impropérios podem ser revisados a cada ano.
Em seguida segue o rito da adoração da Cruz (somente uma, não várias) pelo povo, precedida por sua ostentação perante a assembleia: "Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo". Para a adoração da cruz seja precedida por uma monição apropriada e pela leitura da "Paixão de segundo Isaías".
O gesto de adoração é feito espontaneamente, como cada pessoa desejar, através de um beijo, abraço, inclinação, ajoelhado, ou tocando o madeiro etc. Os casados podem ir juntos para adorar a cruz, se possível com seus filhos.
Os impropérios evocam o mistério da glorificação de Jesus, que morre ferido de amor e ternura por seu povo.
A celebração termina com a comunhão precedida e seguida por uma oração comunitária e pessoal.
A Sexta-Feira Santa é dia de muitas manifestações da religiosidade popular em nosso continente: em muitos lugares a via sacra percorre povoados ou bairros inteiros, às vezes com encenação das estações e sempre com grande participação dos fiéis; a procissão do Cristo morto é outro costume arraigado em alguns lugares. As de Cristo ensanguentado, "o homem das dores", tem sido na América Latina um forte elemento de identificação para o povo mais simples e sofredor: esse homem ferido e maltratado é o Filho de Deus vitorioso e ressuscitado (Guillermo Rosas, ss.cc; in CELAM, 2007: p. 34-35).
Para o nosso povo, a Sexta-Feira Santa é um dia de dor, manifestado por duas figuras: o Nazareno e a Virgem Dolorosa. Os ofícios deste dia são substituídos quase quase totalmente pelas procissões do catolicismo popular. Atualmente se tem decaído muito as devoções das "sete palavras" e da "via crucis", atos típicos da noite de quinta-feira diante do local designado para a reserva eucarística.
Terminamos aqui esta segunda parte sobre o Tríduo Pascal, e amanhã encerraremos com uma abordagem sobre o Sábado Santo. PAX!!!
Referências:
MARCILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia liturgica dos sacramentos, espiritualidade e ano litúrgico. 1ª ed - São Paulo: Paulinas, 2009. - (Coleção liturgia fundamental)
CELAM. Manual de Liturgia, volume IV: a celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. - São Paulo: Paulus, 2007. - (Manual de liturgia)
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