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TRÍDUO PASCAL - PARTE 1

abril 09, 2020

O TRÍDUO PASCAL

Os três dias em que os católicos celebram a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo são conhecidos como o tríduo pascal. Compreende o tempo desde a véspera (tarde) da quinta-feira santa até a tarde do domingo de Páscoa. É o coração do ano litúrgico.
A expressão Tríduo Pascal, aplicada as festas anuais da Paixão e Ressurreição, é relativamente recente, pois não remonta antes dos anos trinta do século XX.
Esta celebração, que se estende em três dias mas trata-se da mesma celebração comemora, passo a passo, os últimos eventos da vida de Jesus. que são desenvolvidos durantes estes três dias.
O tríduo era originalmente formado pela Sexta-feira e Sábado Santos como dias de jejum, leitura da paixão e vigília, juntamente com o domingo da Ressurreição (Páscoa). Mais tarde, entre os séculos III e VIII, foi acrescentada a Quinta-feira, que na verdade era o último dia da Quaresma e tempo de preparar o tríduo. Esses três dias santos são o culminar de todo o ano litúrgico, um retiro espiritual para os crentes na comunidade e o principal momento das decisões cristãs.
Na Páscoa, celebramos o memorial da libertação salvadora (a transição de Jesus Cristo da morte para a vida), através da qual lembramos o passado, confessamos a presença de Deus no presente e antecipamos o futuro. A rigor, a Páscoa de Cristo é o passo "deste mundo ao Pai" (Jo 13,1). Toda a vida de Cristo é uma Páscoa: "Eu sai do Pai e vim ao mundo. De novo, deixo o mundo e vou para o Pai" (Jo 16, 28).

1º DIA: QUINTA-FEIRA SANTA


O Tríduo Pascal começa com a missa vespertina da Ceia do Senhor da Quinta-Feira Santa, dia de reconciliação, memória da Eucaristia e pórtico da paixão. Celebra-se o que Jesus viveu na ceia de despedida:
De fato, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, proclamais a morte do Senhor, até que ele venha (1Cor 11,26).
Após uma introdução ao sentido da reconciliação prévia ao tríduo, se canta algo apropriado e se faz a oração. Duas ou três leituras bíblicas ajudam a tomar consciência mediante um exame concreto, feito eventualmente entre várias pessoas, segundo o tema escolhido para a revisão. Também pode ser introduzido um gesto penitencial como ascender e apagar algumas velas, a queima de papéis em um braseiro, quebrando um vaso de barro, etc. Se a comunidade é grande e, tanto quanto possível, divida em grupos para tomar consciência dos pecados. Em seguida peça perdão por meio de petições preparadas; se possível, faça também de modo espontâneo um convite a reconciliação por meio de um silêncio prolongado.
A celebração litúrgica da Quinta-Feira Santa não é primitiva, porque a antiga tradição ligava a instituição da Eucaristia e o começo da Paixão à terça ou quarta e não a quinta-feira. Mas no século IV a evolução já tinha acontecido, e na quinta-feira se comemorava a Ceia do Senhor. É chamada, de fato, desde aquela época, Feria V in Cena Domini, mas algumas vezes também era chamada de Natale calicis. Se em alguns casos também é denominada dies traditionis, é preciso prestar atenção ao contexto, porque traditio nos tempos mais antigos significa somente "entrega", "instituição", e a expressão se refere à Eucaristia; "dia da instituição da Eucaristia", como se diz ainda no Hanc igitur desse dia: Offerimus ob diem in qua D.N.J.C. tradidit [...] corporis in sanguinis sui mysteria celebranda (oferecemos-te por ocasião do dia, no qual N.S.J.C. instituiu - transmitiu - a celebração dos Mistérios do seu corpo e do seu sangue"). Posteriormente, no entanto, dies traditionis veio a significar também "dia da traição" (perditionis), relacionada por isso mesmo com a captura de Jesus (MARCILI, 2009: p. 527).
Nos séculos V-VII, a Quinta-feira Santa foi um dia de reconciliação para os pecadores públicos, sem vestígios da celebração da Eucaristia vespertina, pois [...] a Missa vespertina compreendia a reconciliação dos pecadores no começo e a consagração dos óleos no final do Cânon; e era Missa in Cena Domini (MARCILI, 2009, p. 529).
A partir do século VII, foi introduzido neste dia duas celebrações eucarísticas: pela manhã (matutina), para consagrar os óleos (necessários na vigília) e à noite, comemoração da Ceia do Senhor (cf. MARCILI, 2009: p. 529).
Todo o mistério da Quinta-Feira Santa e do Tríduo Pascal está contido nas palavras do evangelista João (13,1):
"Antes da festa da Páscoa (judaica), Jesus, sabendo que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai (Páscoa de Cristo), tendo amado os seus (entrega, quinta-feira santa) que estavam no mundo, amou-os até o fim (morte, sexta-feira santa). Iniciou-se a ceia (eucaristia, páscoa cristã)"...
Na eucaristia, da Quinta-Feira Santa, a Igreja revive a última ceia de despedida de Jesus e celebra a caridade fraterna através de dois gestos:
1) Testemunho (Lava-pés);
2) Sacramental (a Eucaristia).
Com a missa vespertina (noite) da Quinta-Feira Santa, começa o tríduo. Por issoafirma-se que a Quinta-Feira Santa é a "comemoração da Ceia do Senhor". Todas as leituras deste dia evocam a entrega de Jesus, que cumpre com o antigo rito da antiga Páscoa (1ª leitura), oferece seu corpo no lugar do cordeiro (2ª leitura) e proclama o mandamento de serviço (evangelho). Mas, ao mesmo tempo, Jesus é entregue por Judas e abandonado pelos outros discípulos.
Atualmente, após ser declarado Caritas a Quinta-Feira Santa como "dia do amor fraterno", tanto a instituição da Eucaristia como a do sacerdócio passaram, por assim dizer, para segundo plano. Somente aqueles que participam nos ofícios litúrgicos percebem o mistério que envolve este dia.
A celebração da noite requer preparação para a capela ou igreja.
Para ela, usa-se a cor branca. Nela, há um lugar especial para a recordação do sacerdócio ministerial como serviço humilde e total, a exemplo de Jesus, que lavou os pés de seus discípulos. A presidência da eucaristia é um sinal eloquente dessa entrega da vida inteira aos irmãos. O que se faz e diz in persona Christi - em nome e representação de Cristo - é um sinal de um seguimento no ministério sacerdotal que busca a mesma radicalidade do Senhor (Guillermo Rosas, ss.cc; in CELAM, 2007: p. 34).
É aconselhável dar um destaque especial à mesa, que, se possível, deve ser grande e bem decorado. O monumento pode ser feito em um mesa simples, com uma vasilha adequado, do tipo rústico. Devem ser situadas no centro do presbitério os utensílios necessários para o Lava-pés: jarra com água, bacia e toalha. É possível começar esta celebração do lado de fora, em um pátio - se forpossível, com uma preparação especial para nos dispor a começar.
Entra-se cantando. A celebração transcorre-se de acordo com o ritual oficial. Após a primeira leitura (Ex 12), prepara-se com certa solenidade a mesa. Um símbolo importante da Quinta-Feira Santa é a Lava-pés, onde é aconselhável a participação de um maior número possível de fiéis, e que seja feito em silêncio. Um canto de caridade pode preceder ou seguir esse gesto. Em seguida podemos dar-nos a paz. Se faz uma catequese adaptada às crianças presentes, sobre o sentido do Lava-pés que eles participaram. Em geral, pode ouvir-se neste momento uma música clássica, polifônica ou um canto gregoriano.
Certamente, o Lava-pés é um gesto estranho a nossa cultura, mas foi transmitida pelos ofícios deste dia e significa um serviço que exige e requer humildade. O "monumento" poderia em um local apropriado no templo, onde se celebrará a "hora santa".
A missa da Ceia do Senhor termina com o translado do pão consagrado ao lugar da reserva, de onde será pego, no dia seguinte, para a comunhão. Enquanto permanece para a adoração eucarística, que tem nessa noite uma continuidade visível com a eucaristia, a comunidade reza ao redor do pão da presença real e sacramental do Senhor - quer dizer, reza com o próprio Senhor - em memória de sua paixão e morte, na espera da ressurreição (Guillermo Rosas, ss.cc; in CELAM, 2007: p. 34).
Por fim, termina esta primeira parte do Tríduo Pascal iniciado na quinta-feira com uma longa oração pessoal em silêncio. A hora santa pode ser feita, seja na Quinta-Feira Santa, ou na Sexta-Feira Santa de manhã. Para esta hora de adoração pode ser preparados textos bíblicos, cantos ou músicas para serem ouvidas, fragmentos religiosos literários, notícias sucintas do mundo, orações de petição ou ação de graças e breves revisões pessoais de vida. Lembre-se de que a linguagem religiosa ou litúrgica deve estar de forma direta, direcionada a Deus. Como texto bíblico, pode ser utilizado o discurso de despedida do evangelista João (cap. 13-17), as "sete palavras" ou o itinerário da "via Crucis" (Via Sacra). A experiência nos diz que essa oração pessoal é uma das mais importante do ano. Também podemos contar com a oração oficial da Liturgia das Horas que é a oração por excelência pública da Igreja.

Referências:

MARCILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia liturgica dos sacramentos, espiritualidade e ano litúrgico. 1ª ed - São Paulo: Paulinas, 2009. - (Coleção liturgia fundamental)
CELAM. Manual de Liturgia, volume IV: a celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. - São Paulo: Paulus, 2007. - (Manual de liturgia)


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authorOlá, meu nome é Fabio José da Silva. Sou Blogueiro, Católico formado em filosofia e teologia. Meus assuntos de interesse neste blog são: Espiritualidade, Vida Monástica, Hesicasmo, Filosofia, Teologia e Catequese. PAX!!!
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